. . . . . . . . . . Hugo Henrique

Pois eu que durmo tão mal, dormi de oito da noite até seis da manhã. Dez horas: senti um orgulho pueril. Acordei com o corpo todo aumentado em suas células. Ah, isso é vida normal, então? mas então é muito bom!

E eu que nunca fiz luxo pra comer, andei há um tempo fazendo dieta pra perder uns quilos a mais. Aí experimentei uma vida anormal para comer. Andava exasperado como se outros estivessem comendo o que era meu. Então, de raiva e fome, de repente comi o que bem quis. E como e bom comer, dá até vergonha. Ah, que me perdoem os que não têm o que comer; o que vale é que esses não são os que me lêem.

Outro prazer que é normal é quando escrevo o que se chama de inspirada. O pequeno êxtase da palavra flui junto do pensamento e do sentimento: uma hora como é bom ser uma pessoa!

E receber o telefonema de um amigo, e a comunicação de vozes e de alma ser perfeita? Quando se desliga: que prazer dos outros existirem e de a gente se encontrar nos outros. Eu me encontro nos outros. Tudo o que dá certo é normal. O estranho é a luta que se é obrigado a travar para obter o que simplesmente seria o normal.

Autor desconhecido.