• Alguém Tem Que Falar

_ Falei!
_ O que eu te disse?
_ O que eu pensei!
_ O que você pensou?
_ Que eu não deveria falar...
_ Então você não disse?
_ Não...
_ E não pretende falar nada?
_ Eu não ouvi, eu não vi, não vivi. Não é minha culpa!
_ Patético!
_ Somos!

Olhou de um lado para o outro e não viu nada. Atravessou a rua lenta, cautelosamente... Chegando à outra calçada se despiu e continuou andando. Nua. Desfilando. Ninguém a olhava, ninguém se importa, ninguém se incomodava. Como num estalo de consciência vestiu sua roupa e instantaneamente desapareceu no meio da multidão.

Ele começou a andar sem rumo em meio à escuridão... Achou alguns pinos e por puro instinto os derrubou. A chuva começou a cair e molhado em meio ao breu desmaiou no chão gélido de uma avenida. Confuso e sem forças, preferiu não levantar. Desejando fortemente que um carro o atropelasse, continuou ali estatelado, embriagado por seus pensamentos.

Cresceu numa família normal, viveu num ambiente nem tão normal. Nunca se achou igual a ninguém, sempre teve um modo de pensar e raciocinar diferente de todos, e por isso logo se enlameou de conflitos.

Não se importou. Pouco o influenciou o que pensaram ou o que disseram. Ele era assim e gostava de ser assim, era o que bastava pra ele. Tanta falta de importância para coisas sérias foi o que o levou ao estado que estava agora. Não só enlameado, mas desmaiado, abandonado, molhado, desacreditado...

Ele nasceu na Babilônia, foi criado pelos deuses, abençoado de uma inteligência diferenciada, de uma visão crítica aguçada. Ele era o cara. Mas no auge de sua soberba ele aprendera pois uma segunda lição: ser superior nem sempre é bom, estar por cima nem sempre é a melhor opção. Ele caiu!



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