Dois minutos e meio e o zagueiro derruba o astro do time adversário na área! Pênalti! Jogador experiente, sabido, cobra com categoria e abre o placar.

O zagueiro, recém chegado ao time, recebe algumas vaias da torcida, mas logo ele a ganharia com uma jogada bem trabalhada pela lateral do campo. Cruzamento perfeito para o atacante e gol, o jogo estava empatado. Feliz com seu desempenho e mais confiante, ele tenta novas jogadas, abusa da autoconfiança, bate boca com o juiz e logo é expulso do jogo.

No vestiário mais cedo do que imaginava, ele se pergunta se foi vantajoso ter aceitado a proposta de jogar naquele time. Com "uma perna inteira" no rebaixamento, ele sabia que qualquer errinho poderia ser fatal. Ele tivera outras oportunidades e convites, mas dispensara todos pois sempre gostou de desafios. Coisas fáceis pra ele normalmente são banais, até porque ele não acredita na sorte.

Sem esperar que os outros jogadores terminassem o jogo para então irem para casa, telefonou para membros da parte técnica e foi para o centro de treinamento do seu clube. Malhou por algumas horas, segurou as lágrimas que insistiam teimosamente em rolar sobre o seu rosto, deu algumas voltas no campo, pegou a chave do seu carro e mesmo ainda suando, foi para casa. Refletiu.

Ele não tinha mais absoluta certeza se queria realmente ser jogador de futebol. Não sentia mais todo aquele tesão em estar com a bola no pé. Tinha medo. Medo de fracassar novamente. Medo das coisas não darem certo... Ele era novo, e apesar do tempo que perdeu aprendendo todas as poucas técnicas que apresentava em campo ainda tinha muito tempo, e ele sabia disso, só não sabia o que fazer com todo esse tempo.

Viver a teoria do "deixe a vida me levar"? Não! A vida é tão chata quando não se tem objetivos... Ele vai voltar à batalha, mesmo sem saber se a vitória lhe será prazerosa! Afinal, ele está em uma guerra muito maior do que o rebaixamento do seu time. Ele está lutando por uma ideologia!

• Eu Não Penso Mais

Já diziam os grandes filósofos de outrora que estar vivo não significa exatamente viver, frase esta que está sujeita a milhares de interpretações. E apesar da aparente facilidade de ser interpretada individualmente, ela se torna difícil se tentarmos analisá-la num sentido geral, pois envolve a maior pergunta de todos os tempos: "O que é viver?"

Biologicamente falando, estar vivo significa apresentar composição química complexa, organização celular, crescimento, reprodução, metabolismo, homeostase, reações a estímulos do ambiente e evolução.

A famosa frase de René Descartes "Penso, logo existo" exemplifica a minha opinião sobre o conceito de viver que se mistura a uma das características propostas pela biologia, a evolução, sendo que, em um sentido mais psicológico.

Todos nós nascemos com habilidades, seja das mais complexas como a de entende o mundo, como das mais fúteis como jogar futebol, o que nos entristece é saber que habilidades mais fúteis são mais valorizadas, mas isso não vem ao caso.

É legal saber que todos os seres humanos que realmente existirem jamais morrerá, e para existir não é necessário apenas ser concebido, é necessário ir além. É necessário pensar. Ser um ser e não apenas massa. Existir é ser capaz de influir, é estar, de fato, vivendo no mundo e não alheio a tudo. É ser protagonista e não mero figurante. É conseguir mudar o meio em que vive. É se tornar inesquecível não apenas para alguém ou para uma geração e sim para o mundo, para uma nação. É evoluir a cada dia.

Aquele que levanta todo dia apenas para trabalhar visando garantir o seu dinheiro para comprar uma casa ou qualquer outro bem, tendo a matéria como objetivo de vida, jamais será algo além do que simples matéria. Matéria orgânica que brevemente voltará a ser inorgânica, uma rocha fria, que desaparecerá da face da terra ao partir das pessoas que um dia cruzaram com ele em vida.

Há quem diga que não vale a pena pensar. Que é vantajoso desfazermo-nos de nossa característica única e nos juntarmos a uma grande massa, que contribui apenas com o seu peso sobre a Terra.

Eu não penso mais. Não penso mais em ser assim. Hoje eu simplesmente penso.



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