~> Trancafiando sentimentos

E tudo aquilo que estava engasgado em sua garganta continuou ali, trancafiado, junto de todos aqueles sentimentos e vontades que nem ao espelho ele confiava em dizer. Tudo ali, trancafiado em sua mente, em seu mundo, tudo aquilo que o impedia de dar um passo à frente no mundo real.

E mais uma manha, mais uma tarde, mais uma noite e nada... E nunca... E absolutamente nada nem ninguém muda...

Todas aquelas pessoas, todos aqueles dias, todos aqueles momentos. Só pra ele que isso importava? Todos os carinhos, abraços, palavras de afeto, amor... Vazias?

Tudo aquilo, naquele momento, parecia não passar de uma brincadeira, "pura zoação". Tratava-se de uma bela e doce mentira, algo que pelo jeito só existia e existiu um dia em sua cabeça sonhadora...

Lá estava ele, mais uma vez com uma sensação de que o que era doce amargou, e o que amarga nunca volta a ser doce novamente.

...tudo era apenas um jogo de sentimentos, um jogo frio e cruel que ele não estava disposto a jogar e havia saído derrotado por isso...

"Chegou a hora de esquecer o passado

E passar uma borracha no que aconteceu antes
Se esconda atrás de um rosto vazio
Não faça muitas perguntas, apenas diga
Porque tudo isso é só um jogo
É uma bela mentira

É uma perfeita enganação
Apenas uma bela mentira para se acreditar[...]"

E ele que se achava um mentiroso...



{{A Beatiful Lie - 30 Seconds To Mars}}

~> Vida Nova

Não quero mais pensar em possibilidades, refletir se posso ou não fazer alguma coisa... Agora eu quero viver intensamente, quero acordar, abrir a janela e dizer que o dia está lindo lá fora, quero não só sonhar, mas sim, QUERO FAZER ACONTECER, porque EU POSSO e sei que sou capaz de conquistar TUDO QUE EU QUERO.

A princípio pode parecer que aquele garoto mimado que reinou absoluto durante muitos anos tenha voltado ao controle, mas não é isso: Acontece que aquele garoto cabisbaixo, tímido, pessimista e as vezes, de certa forma até inocente morreu, ou pelo menos foi ofuscado por esse nosso "belo" mundo.

Não vale apena desperdiçar dias e noites chorando por não ter isso ou aquilo, ou até mesmo por não conseguir fazer algo que tanto sonhou. O que importa é olhar pra frente, avistar um novo objetivo, e rumar ao seu encontro. Eu sei que é fácil falar, mas também sei que é difícil continuar na lástima da derrota, sem ao menos ter sido derrotado.


Eu quero errar hoje e amanha, para que, quem sabe, eu seja alguém melhor depois de amanha. Afinal, não é com nossos erros que chegamos mais perto da perfeição e aprendemos a não errar mais?

Barreiras foram feitas para serem derrubadas, sonhos foram feitos para serem realizados. E a vida? A vida foi nos dada para que vivamos intensamente...


"[...]Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer[...]"

Porque sim, a vida continua mediante a qualquer circunstância...

~> A Tarde Negra

Uma tarde de fantasias e pensamentos controversos: era o que aquele garoto estava vivendo...

Sozinho em sua casa, acompanhado apenas por um livro, ele sentia mais do que nunca que lhe faltava algo. Sua última noite havia sido uma das mais confusas de sua vida, e como em toda confusão, ele não sabia quais seriam as proporções que aquilo lhe causaria. Ele parecia um bêbado de ressaca, se perguntando se havia feito algo de errado na noite passada...

Ele não sabia exatamente se tinha feito a coisa certa, mas se sentia melhor desde o momento em que fez aquilo.

Desde criança ele sempre foi assim, decidido a ter o que quisesse, na hora em que escolhesse, mas diferentemente das outras crianças que pediam abertamente, ele sempre usava alguma de suas ideologias mentirosas, mesmo dizendo a verdade, para conseguir o que desejava. Ele sempre foi um apaixonante manipulador de pessoas, acostumado a manipular até mesmo os garotos mais velhos que normalmente batiam e extorquiam dinheiro das criançinhas de sua idade.

Na noite passada porém, ele havia aberto mão dessas suas ideologias e usado deliberadamente a verdade e era isso o que lhe causava dúvidas. Mas era uma dúvida gostosa de ter, ele olhava tudo com otimismo após dizer a verdade, até mesmo as coisas ao seu redor fluíam de uma forma estranhamente bem. Ele viajava nas milhares de soluções que essa nova visão lhe proporcionava. Ele tinha dentro dele a certeza de que tudo iria ficar bem e que todos os problemas seriam solucionados...

Parecia mentira, mas ao olhar pela janela percebeu que aquela tarde escurecia de uma forma estarrecedora, parecia que a escuridão da noite chegava mais rápido para que em uma conversa ele percebesse que nem sempre se tem uma segunda chance para se solucionar um problema e que definitivamente estava tudo acabado.

E mais uma vez "a ciência confirmava os fatos que o coração já havia descoberto: Tudo era relativo quando fazê-la feliz, lhe fazia feliz".

E bola pra frente, a vida sempre continua, entre tropeços e quedas, momentos bons e ruins: a vida sempre continua. E, diga-se de passagem, continua mais do que se pode imaginar...

"Seus dentes e seus sorrisos
Mastigam meu corpo e juízo
Devoram os meus sentidos
Eu já não me importo comigo
E então são mãos e braços
Beijos e
abraços
Pele, barriga e seus laços
São armadilhas e eu não sei o que faço
Aqui de palhaço, seguindo os seus passos
"

A saudade fica os momentos bons também, mas a tristeza um dia vai ter que partir...

~> O Menino Ogro

O Sol lá fora estava insuportável, mas lá dentro, mesmo ao "clima europeu" do ar condicionado as coisas não estavam assim tão melhores. Todos estavam sentados volta a mesa, em confraternização, tudo estava correndo bem, tudo, exceto os pensamentos na cabeça daquele menino alienado.

Olhava de um lado para o outro desesperadamente a procura de uma saída, o ambiente o sufocava, ele percebia até mesmo pelo movimento dos talheres que ele não pertencia ao grupo e ele já estava saindo dele, de uma maneira torta e de certa forma grosseira, ele sabia, mas ele estava saindo, só não sabia se deveria chorar ou se sentir aliviado por isso...

Em meio as diferenças ele já havia tentado ridiculamente se espelhar naquelas pessoas, mas as diferenças eram sempre maiores do que as suas tentativas. Diferenças sociais, raciais, financeiras? Não! Era uma questão de ideologia, e isso sim liquidava todas as possibilidades de acordo.

Ele se sentia um perfeito ogro disfarçado de príncipe encantado, com seus atos de insanidade, sua ignorância, seu isolamento, e principalmente por sua falta de capacidade e competência...

Insano por dizer coisas completamente sem lógica, ignorante por não conseguir manipular a situação ao seu redor, isolado por não apresentar condições de convívio com outros seres humanos, e incapacitado ou incompetente por desistir de tudo daquela maneira.

Mas apesar de tudo, ele havia aprendido muitas coisas com aquelas pessoas, principalmente, que o mundo real é bem mais complicado do que aquele mundinho ao qual ele pertencia. Não que aquelas pessoas fossem melhores, mas ele percebeu que se ele quisesse vencer na vida ele teria que mudar muito.

Tudo estava terminando ali, entre sorrisos forçados que brochavam o amarelo de seus dentes ao não entender a piada...

Pobre ogro, em lágrimas, volta novamente para o pântano, sem a princesa, mas com a certeza de que aquele é o seu lugar e que nem sempre os contos de fada se tornam realidade...



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